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PF: advogado disse que levaria relógio de luxo para magistrado

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O inquérito da Operação Sisamnes revela que o advogado Roberto Zampieri enviou para o desembargador João Ferreira Filho a foto de um relógio suíço da marca Pattek Philippe, o que, para a Polícia Federal, seria uma “vantagem a ser recebida” pelo magistrado.

Há consideráveis elementos apontando para possíveis solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas

 

A informação consta na decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação deflagrada nesta terça-feira (26) para investigar um esquema de venda de sentenças na Justiça.

 

“Há consideráveis elementos apontando para possíveis solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas, obtidas por força do cargo de Desembargador que João Ferreira Filho exerce”, escreveu Zanin. 

 

Afastado desde agosto, o magistrado foi um dos alvos da operação desta terça. Já Zampieri foi assassinado em dezembro do ano passado em Cuiabá.

 

Consta na decisão, à qual o MidiaNews teve acesso, que Zampieri e João Ferreira mantinham “diálogos bastante intensos e rotineiros”.

 

Em uma conversa registrada em 2023, o advogado afirmou que levaria o relógio para o desembargador.

 

“Em diálogo de 8 de novembro de 2023, demonstrando veemente relação de proximidade com o investigado, [Zampieri] chegou a mencionar que levaria o item para que o Desembargador João Ferreira Filho pudesse analisá-lo. Constou do diálogo: ‘Eu vou levar esse para o senhor ver, amanhã ou sexta’”, informa a decisão reproduzindo uma mensagem de Zampieri. 

 

Segundo as investigações, o “presente” seria uma contrapartida para análise de um agravo de instrumento que tramitava na 1ª Câmara de Direito Privado do TJMT, a qual João Ferreira integrava.

 

“Os relatos descortinam indícios de que Roberto Zampieri estabelecia contatos e diálogos bastante intensos e rotineiros com o investigado. Há consideráveis elementos apontando para possíveis solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas, obtidas por força do cargo de Desembargador que João Ferreira Filho exerce”, consta na decisão.

 

“A representação mencionou, logo ao seu início, uma troca de mensagens e imagens entre ambos acerca de um relógio da marca Patek Phillipe, o qual, segundo a autoridade policial, revelar-se ia uma contrapartida ou uma vantagem a ser recebida em virtude do cargo público do investigado”, diz outro trecho da decisão.

 

Conforme a PF, no mesmo dia da troca de mensagens e imagens sobre o relógio, Zampieri solicitou a João Ferreira que examinasse o caso. O desembargador teria respondido que não estaria em Cuiabá, mas que retornaria no dia 14 de novembro e analisaria a situação.

 

De acordo com a investigação, Zampieri não estava registrado como advogado no agravo de instrumento e teria atuado como “intermediador” do advogado Flaviano Kleber Taques Figueiredo, também alvo da operação.

 

“Em 8/11/2023, data já mencionada, Roberto Zampieri informou ao advogado Flaviano que falou com o Desembargador, o qual iria resolver a circunstância. A mensagem de Roberto Zampieri ao advogado Flaviano ficou assim registrada: “Falei com ele agora, deve sair hoje no final do dia ou amanhã”, consta na decisão. 

 

No dia posterior, porém, segundo a investigação, João Ferreira Filho rejeitou o pedido de retratação.

 

Na mesma data, Zampieri e Flaviano travaram a seguinte conversa:

 

Roberto Zampieri: “Oi. Estou em uma audiência. Eu já vi que foi indeferido. Vou cuidar disso amanhã para você. Vou tentar arrumar amanhã”.

 

Flaviano: “Cara, é difícil. Se soubesse tinha ido falar com ele”.

 

No dia 13 de novembro, constou, por diálogos e imagens que Zampieri compareceu ao Tribunal de Justiça para buscar esclarecer a situação processual com o desembargador.

 

A Polícia Federal atestou que, no dia seguinte, em 14 de novembro, o desembargador enviou e deletou mensagem destinada a Zampieri, no contexto de uma conversa sugestiva da existência de valores.

 

Dois dias após, em 16 de novembro, João Ferreira Filho acolheu os embargos de declaração, favorecendo, segundo a PF, a parte representada pelo advogado Flaviano. 

 

Nessa mesma data, Zampieri perguntou a Flaviano se este “consegue os 250 para amanhã”, indicando, segundo os investigadores, que o valor da decisão acordada com o desembargador foi de R$ 250 mil.

 

No dia seguinte, Zampieri retomou as cobranças em diálogos assim registrados:

 

Roberto Zampieri: “Flaviano, hoje preciso muito da sua atenção meu amigo. Já recebi duas ligações agora pela manhã. Não consigo deixar de atender essa pessoa hoje”.

 

Roberto Zampieri: “Desculpe a perturbação, precisamos pagar as novilhas. Veja se consegue 150 hoje, na outra semana passa o restante”.

 

Conforme a investigação, após a cobrança “Flaviano, de fato, poucos minutos depois, transferiu a quantia de R$ 150 mil a Zampieri, consoante comprovante bancário juntado aos autos”.

 

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