A morte do aluno soldado Lucas Veloso Peres, durante um treinamento realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, gerou consternação entre amigos, familiares e autoridades de Mato Grosso.
Lucas, de 27 anos, morreu durante uma aula de salvamento aquático realizada no curso de formação do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso. O inquérito policial sobre a morte do jovem constatou que ele faleceu por asfixia por afogamento. Três militares foram indiciados no caso.
A morte do aluno soldado
Corpo de Bombeiros
Lagoa onde ocorreu o treinamento
Lucas era natural de Caiapônia (GO) e morava em Mato Grosso desde junho de 2023, quando passou em um concurso público para ingressar na corporação dos Bombeiros no estado.
Durante um dos treinamentos realizados na Lagoa Trevisan, Lucas passou mal e se afogou no local. Ele foi socorrido por colegas que tentaram reanimá-lo e encaminhá-lo a uma unidade de saúde. Contudo, o jovem não resistiu e morreu logo após o resgate.
Durante as investigações, uma série de prints foi divulgada, indicando que a ação se tratava de “caldo”, termo utilizado pela guarnição para indicar uma pressão na cabeça do aluno e, em seguida, empurrá-lo em direção à água.
“Esforço físico, meu p…, foi caldo”, afirmou uma pessoa. Logo em seguida, outra responde que só falará sobre o caso na presença de um juiz. “Vamos falar perante um juiz, falar todos os detalhes, porque os responsáveis têm que pagar”, disse.
Investigação
Diante da gravidade do caso, um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte do aluno.
Após as investigações, três militares foram indiciados pelo envolvimento na morte do aluno soldado. Entre os nomes estão o capitão responsável pelo treinamento na Lagoa Trevisan, Daniel Alves Moura e Silva, e o soldado Kayk Gomes dos Santos. O nome do terceiro militar não foi revelado.
Daniel deverá responder por homicídio doloso eventual e Kayk por maus-tratos. Já em relação ao terceiro militar indiciado, não houve informações sobre o possível crime.
Na denúncia realizada pelo Ministério Público Estadual (MPE), foi detalhado o “intenso sofrimento físico e mental” pelo qual o aluno soldado passou. Na ocasião, ele correu 100 metros a nado no lago e parou para se recompor, utilizando um flutuador, conhecido como life belt, como apoio. Contudo, o capitão Daniel ordenou que ele soltasse o equipamento e continuasse a travessia sem apoio.
Como não o fez, o capitão ordenou que Kayk realizasse “caldos” no aluno. Nesta ocasião, Lucas pediu por socorro e para que o tirassem da água, mas em determinado momento da atividade, acabou se afogando e morrendo.
Família do Soldado
Reprodução
Família do soldado Lucas Veloso
Após a confirmação da morte do aluno soldado, a família de Lucas veio até Cuiabá, onde participou da reconstituição do caso. Durante a passagem pela capital, o pai de Lucas, Cleuvimar Selvo Peres, afirmou que ser bombeiro era o sonho da vítima e pediu por mudanças nos cursos de formação.
“O que nos sustenta é a missão que o Lucas começou e nós vamos continuar: de trazer mudanças reais na realização dos cursos de formação. Para que nenhuma outra família sinta essa mesma dor”, completou.
A proposta elaborada pela família era de que os cursos de formação passassem a ser gravados para evitar abusos excessivos por parte dos formadores.
A proposta foi aceita pelo Governador Mauro Mendes, que assinou um decreto que obriga a filmagem de todo o treinamento das forças de segurança do Estado de Mato Grosso. Na ocasião, Mauro pediu desculpas à família pela morte precoce do aluno.
“Eu só posso expressar meu profundo sentimento e humildemente pedir desculpas em nome do Governo de Mato Grosso. Sou pai de três filhos e consigo imaginar a dor de vocês, que não é igual a sentir a perda. Gostaria que esse encontro nunca tivesse acontecido dessa forma. Peço que Deus ajude a suportar essa dor. Garanto a vocês que vou exigir uma correta apuração do caso”, afirmou o governador na ocasião.
O decreto recebeu o nome de Decreto Lucas Veloso Peres.
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