Fundada em 1986, no bairro Tijucal, em Cuiabá, a entidade Casas Caminho Redentor surgiu do trabalho de um grupo espírita kardecista liderado por Gilberto Detoni. O projeto, que começou como uma iniciativa para acolher crianças em situação de rua, evoluiu para se tornar o único em Mato Grosso especializado em atender pessoas com lesões físicas e cerebrais, em situação de risco familiar.
“Na época, tínhamos muitas crianças de rua e começamos a acolhê-las. Algumas eram encaminhadas pela juíza Cleuci [Terezinha Chagas], uma grande parceira desde o início. Mais tarde, percebemos a necessidade de focar em crianças com limitações, pois elas tinham menos oportunidades de encontrar famílias”, relata Maria Soledade, voluntária e secretária da diretoria.
O envolvimento de Maria Soledade com a casa começou na mesma época em que ela iniciou no espiritismo. “Na década de 1980, eu morava ao lado da Sociedade Espírita Bezerra de Menezes, no Tijucal. O projeto ainda era uma creche, e comecei a ajudar como voluntária, evangelizando crianças. Eu cantava, contava histórias e levava essas atividades para a creche. Desde então, nunca me afastei. Hoje, venho todos os sábados com meu violão, levando um pouco de música e carinho para os acolhidos”, compartilha.
O espaço onde funciona o projeto era uma antiga fazenda, cujas mangueiras e ruínas foram preservadas. “As mangueiras que vemos hoje foram plantadas pelos escravizados que viviam aqui. O casarão antigo deu lugar ao nosso espaço de acolhimento, mas mantivemos os armadores de rede e o poço, que ainda é utilizado. Tudo aqui carrega história e simbolismo”, destaca.
Atualmente, a Casas Caminho Redentor acolhe 36 pessoas, entre crianças e adultos, todas em situação de extrema vulnerabilidade. A instituição se divide em três lares dentro do mesmo espaço: o Lar Adalha, que abriga homens adultos; o Lar Caminho Redentor, para mulheres; e o Lar Fraternidade, que promove a integração com a comunidade.
“Nós chamamos de ‘Casas’ porque cada lar tem sua própria dinâmica. Separamos por gênero mas todos fazem parte de um mesmo ambiente. Aqui, procuramos oferecer não apenas abrigo, mas também dignidade e amor para quem nunca teve isso”, explica Soledade.
A estrutura e os serviços oferecidos são um diferencial importante. Além de moradia, os acolhidos recebem atendimento médico, medicação contínua e fisioterapia diária com uma sala de equipamentos. “Nós temos profissionais como enfermeiras e fisioterapeutas, além de cuidadores para garantir a qualidade de vida dos acolhidos. Tudo isso é mantido com muito esforço, já que dependemos exclusivamente de doações. Não recebemos nenhum auxílio governamental”, diz.
A entidade enfrenta desafios financeiros significativos, mesmo com o auxílio do INSS destinado a alguns acolhidos. “Eles recebem um benefício de R$ 1.600, mas esse valor não cobre nem o salário de um terapeuta, por exemplo”, explica Soledade.
Esse recurso, embora essencial, é insuficiente para atender às necessidades de medicação contínua, cuidados diários, todas as refeições e terapias especializadas dos acolhidos. Com a queda nas doações após a pandemia, a instituição depende cada vez mais da solidariedade de voluntários e doadores para manter a qualidade de vida dos residentes.
“As doações caíram drasticamente. Antes, tínhamos apoio de empresas que doavam medicamentos e até valores fixos, mas diminuiu muito. Hoje, precisamos de alimentos, fraldas, produtos de higiene e roupas, além de recursos para pagar nossa equipe. Temos 29 funcionários registrados com carteira assinada e ainda fazemos cestas básicas para ajudar essas famílias, que também vivem em situação precária”, detalha.
O projeto mantém uma rotina de atividades interativas, buscando promover socialização e bem-estar para os acolhidos. Aos sábados, abre suas portas ao público, promovendo momentos de interação e lazer entre os acolhidos e a comunidade.
Antes da pandemia, era comum a realização de cafés da manhã aos sábados, integrando os acolhidos com as crianças da comunidade. “Agora, retomamos isso de outra forma. Todo sábado, eu e um amigo promovemos momentos de música e histórias. Eles precisam disso. O carinho, a atenção e a conversa são fundamentais para a saúde emocional deles”, diz Soledade.
A instituição está aberta para receber voluntários de diversas áreas, desde musicoterapia até artes ou apenas pessoas dispostas a ouvir e conversar. Hoje a casa está precisando de um terapeuta ocupacional. “Nós não levantamos bandeiras religiosas. A única exigência é o amor. Qualquer um que queira doar um pouco do seu tempo ou de si mesmo será bem-vindo. Nosso foco sempre foi o acolhimento, independentemente de crenças”, reforça.
Apesar dos esforços que são constantemente enfrentados, as Casas ainda encontram dificuldades para manter seus acolhidos. “Se eles não estivessem aqui, onde estariam? Na rua, sem cuidados, em condições degradantes. Nós somos a única instituição do Estado que oferece esse tipo de acolhimento. E isso deveria ser uma responsabilidade de todos, não apenas nossa. É importante que a sociedade nos veja como um reflexo de amor e solidariedade”, afirma Soledade.
“Aceitamos qualquer tipo de ajuda. Pode ser em forma de doação ou de tempo. O importante é que as pessoas se envolvam. Cada gesto de amor transforma a vida desses irmãos que tanto precisam”.
Serviço
Para ajudar e conhecer mais as Casas Caminho Redentor, entre em contato pelas redes sociais da instituição, no Instagram clique AQUI e Facebook clique AQUI.
O projeto fica localizado na Av. Sebastião Gomes Guimarães, 1051-1153 – Nova Esperança, Cuiabá – MT
Telefone: (65) 99625-4673
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