A quadrilha especializada em furto de peças de caminhões e carretas, alvo da Operação Safe Truck, da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) de Cuiabá, aproveitava o momento de descanso dos caminhoneiros nos postos de combustíveis para cometer os furtos.
Até a vítima perceber, já era no outro dia, e dificultava as Polícias encontrarem essas pessoas que cometiam o crime
Segundo o delegado da Derf, Romildo Nogueira, responsável pela investigação, até o momento, 12 das 20 pessoas que tiveram mandados de prisão expedidos foram detidas. A operação foi deflagrada nesta quinta-feira (27).
Estima-se que o grupo criminoso tenha movimentado com os produtos ilícitos mais de R$ 60 milhões desde 2021.
Durante a investigação, foi revelado que o modus operandi da quadrilha era cometer os furtos no período da noite, e os criminosos tinham preferência por duas marcas de veículos pesados, que seriam a Volvo e a Scania, devido à facilidade para revender as peças furtadas.
“O principal modus operandi deles era durante a noite. Quando o caminhoneiro está descansando, geralmente ele procura um posto de combustível nessas cidades que têm grande trânsito, como Campo Verde, Rondonópolis, Sinop”, disse Romildo.
“Nesse período de descanso, essas pessoas iam até o caminhão, geralmente três, quatro pessoas, subtraíam a peça e se evadiam para Cuiabá. Até a vítima perceber, já era no outro dia, e dificultava as Polícias encontrarem essas pessoas que cometiam o crime”.
Subnotificação
O caso começou a ser investigado em 2022, em decorrência do alto número de ocorrências deste tipo sendo registradas na Polícia. Até o momento, foram identificadas 120 vítimas, mas o número, de acordo com Romildo, deve ser muito maior, devido à subnotificação.
“Foi possível identificar mais de 150 boletins de ocorrências. A partir desses furtos, que eles realizavam principalmente contra pessoas que estavam em trânsito aqui no Estado, e até caminhoneiros que estavam vindo de fora, eles repassavam para os líderes dessa organização, que ficavam responsáveis por revender”.
“Só para se ter uma ideia, uma peça nova de um veículo desse gira em torno de R$ 80 a R$ 100 mil. Eles vendiam no mercado paralelo de R$ 10 a 15 mil. Então, eles tinham lucro, porque eles não pagavam por essa peça, e geravam prejuízo grande para os caminhoneiros”.
Em um dos trechos da investigação, a vítima teve a peça furtada, foi numa loja e comprou a própria peça que havia sido furtada de seu caminhão
“Duas vezes vítima”
Segundo o delegado, foi descoberto no decorrer da investigação que um dos caminhoneiros que havia sido vitimado pela organização criminosa, foi até uma das lojas que participavam do esquema e comprou, sem saber, a peça de seu veículo que foi furtada.
“Em um dos trechos da investigação, a vítima teve a peça furtada, foi numa loja e comprou a própria peça que havia sido furtada de seu caminhão. Foi colocada na perícia e era da vítima”, disse.
A divisão de tarefas
Os investigadores dividiram as funções da quadrilha em três núcleos, sendo o núcleo dos que atuavam nos furtos, dos intermediadores da venda das peças e dos proprietários de auto peças que revendiam os produtos ilícitos.
Ainda de acordo com o delegado Romildo, o grupo era integrado por dois programadores, de Cuiabá, que realizavam o “reset” dos módulos dos veículos, para que posteriormente fossem instalados em outros caminhões ou carretas.
Essas peças, segundo o delegado, são essenciais no funcionamento dos veículos e peças de alto valor. Ao serem retiradas, os veículos das vítimas perdiam a capacidade de trafegar e causavam prejuízo não só pelo furto em si, mas também pelos dias parados no conserto..
Outro integrante importante na cadeia criminosa era o suspeito responsável por emitir as notas fiscais falsas para que os produtos furtados fossem enviados a outros Estados, onde as lojas que participavam do esquema fariam a revenda.
“Eles criaram uma padaria, e por meio dessa padaria produziam essa nota. Porque, para outros estados, tem que gerar nota fiscal. E aí, eles mandaram notas fiscais para a Paraíba e Rondônia.
A Operação
As ordens judiciais da Operação Safe Truck foram expedidas pelo Nipo (Núcleo de Inquéritos Policiais) da Capital, sendo 20 mandados de prisão preventiva, 46 de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares como bloqueios de contas bancárias e sequestro de veículos.
Entre os alvos identificados nas investigações, estão empresas localizadas em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop. O grupo criminoso também conta com ramificações nos Estados de Rondônia, Paraíba, Santa Catarina e São Paulo.
As ordens judiciais foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande, Sinop e Rondonópolis, além das cidades de João Pessoa (PB), Vilhena (RO), Araçatuba (SP) e Araranguá (SC).
Veja o vídeo: