O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin, afirmou que o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e sua esposa, a advogada Mirian Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves, teriam atuado em conjunto em um esquema de venda de sentenças na Justiça.
Entendo que os indícios revelados até aqui se qualificam como suficientes para demonstrar o envolvimento de Andreson e Mirian na empreitada criminosa
A informação consta na decisão judicial, à qual o MidiaNews teve acesso, em que o ministro autorizou a Operação Sisamnes, deflagrada na manhã desta terça-feira (26) para o cumprimento de 23 mandados de busca e apreensão e um de prisão, contra Andreson.
O lobista tinha ligação com o advogado Roberto Zampieri, que foi assassinado no ano passado em Cuiabá e contra quem também pesam suspeitas de intermediação de vendas de sentença.
“A quantidade de diálogos e conversações, refletidos em prints e documentos juntados pela Polícia Federal, mostram inúmeras solicitações de vantagem econômica indevida por parte de Andreson e Mirian, ambos com pleno domínio associativo”, escreveu Zanin.
Conforme o magistrado, os relatos do inquérito policial mostram que Andreson estabeleceu uma rede de contatos com magistrados e assessores de ministros do Superior Tribunal de Justiça e de Tribunais de Justiça, assim como com intermediadores, a fim de obter benefícios derivados das decisões judiciais e informações privilegiadas.
“A função de destaque e comando de Andreson na estrutura criminosa foi delineada longamente na representação [da PF]. Pelo que se apurou, na condição de empresário organizador do esquema ilícito, ele era responsável por intermediar interesses criminosos entre advogados e servidores públicos do STJ”, apontou Zanin.
“O conhecimento dos dois quanto ao fluxo dos processos que foram objeto da concertação criminosa é igualmente explícito. Em uma série de momentos, nominam-se especificamente as partes da ação judicial e as classes processuais, o que parece tornar certo que tinham boa ciência do fluxo interno de movimentações e documentos eletrônicos”, escreveu o ministro.
Zanin destaca um diálogo de Andreson com Zampieri em que Mirian é citada. Na transcrição do diálogo, o nome de Zampieri aparece após o termo “desconhecido”.
Veja abaixo:
Andreson: “Aroldo diz que ia mandar os 200 na sua conta”.
Desconhecido [Zampieri]: “Não vai mandar hoje, só segunda. Acabou de me mandar mensagem agora”.
Andreson: “Hoje”.
Desconhecido [Zampieri]: “Eu estou dentro do banco desde as 15 hs”.
Andreson: “E tem o do Daimler também”.
Desconhecido [Zampieri]: “Filha da mãe”.
Andreson: “Já ligo para Miriam perguntando”.
O ministro cita ainda outra conversa de Andreson e Roberto Zampieri sobre uma ação no STJ, que tinha a ministra Isabel Galloti como relatora. Segundo Zanin, Andreson encaminhou uma minuta de decisão para Zambieri e cobrou, posteriormente, o pagamento.
O magistrado anexou um diálogo entre Zampieri e Andreson ocorrido em 13 de abril de 2022, no qual citam uma pessoa chamada “Juliana”, que teria estado com Mirian e confirmado “a decisão do Damiller”, que foi chefe de gabinete da ministra Isabel Galloti.
Veja abaixo:
Desconhecido [Zampieri]: “Andreson, conseguiu conversar com a Ju…?”
Andreson: “Ela tá aqui está ali falando com a Miriam”.
Andreson: “Está tudo certo lá com a Juliana”.
Andreson: “Ela vai confirmar a decisão do Damiller”.
Desconhecido [Zampieri]: “Opa. Que bom! Muito bom!”.
“Entendo que os indícios revelados até aqui se qualificam como suficientes para demonstrar o envolvimento de Andreson e Mirian na empreitada criminosa”, escreveu Zanin.
“Quanto ao primeiro, aliás, consoante já relatei e aprofundarei em seguida, sua aparente função de destaque no empreendimento ilícito parece bastante clara, sendo plenamente difundida sua intercessão na integralidade das condutas criminosas constantes desta representação”, concluiu.