As investigações da Polícia Federal na Operação Sisamnes apontam que um esquema de venda de sentenças orquestrado pelo advogado Roberto Zampieri teria favorecido Mauro Thadeu Prado de Moraes, filho do desembargador Sebastião de Moraes Filho, e o produtor José Pupin, que já foi considerado “Rei do Algodão” em Mato Grosso.
O saldo era 400, mas aí teve o filho do Velho que eu e você acertamos pagar 200 para ele, pois ele deixou de atender o filho que estava pedindo em favor do Allan
A ação tratava sobre uma disputa de terras nos municípios de Gaúcha do Norte e Paranatinga. Quando o processo foi para o segundo grau, caiu nas mãos do desembargador Sebastião.
Segundo as investigações, apenas pelos honorários advocatícios Zampieri negociou R$ 12 milhões com Pupin.
A informação consta na decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou ordens judiciais contra alvos da operação, deflagrada nesta terça-feira (26).
Suspeito de atuar em negociações de compra e venda de sentenças na Justiça, Zampieri foi assassinado em dezembro do ano passado, em Cuiabá.
“Tive que acomodar o filho dele. Entendeu essa parte?”, disse Zampieri em um diálogo travado com o empresário Valdoir Slapak, do grupo Fource, que prestava serviço de consultoria ao agricultor José Pupin, que era parte na ação.
Nas conversas, ocorridas em setembro do ano passado, Zampieri aparece primeiro tratando com o contato “Daysi Escritório”, sobre uma ação de Pupin.
Em 12 de setembro, dia seguinte à troca de mensagens com Daysi, conforme as investigações, Zampieri fala com Valdoir, que questiona como está o andamento da ação judicial.
No diálogo, Zampieri contou que o recurso de Pupin deve ser julgado “na sessão do dia 28/9”, mas indicou que, para ter uma decisão favorável na ação teve que “acomodar” o filho do desembargador.
A PF sugere que o filho do desembargador teria sido procurado pela parte contrária de Pupin no proceso, mas ele trataria de “desmanchar” o acerto.
“Entre os dias 11 e 13 de setembro do ano passado, emergiu possível poderio de Zampieri nos atos do Desembargador Sebastião de Moraes Filho, indicando-se, outrossim, potencial favorecimento a um de seus filhos como compensação a um êxito judicial alcançado pela parte que Roberto Zampieri representava no processo”, disse Zanin em sua decisão.
Veja o diálogo:
Roberto Zampieri: Sebastião pediu vista. Contrataram o filho dele, mas vou desmanchar. O da Colombo e o outro da quebra do sigilo deu tudo certo.
Valdoir: “Boa!!! E Pupin?”
Roberto Zampieri: “E o do Pupin acabei de resolver agora, vai julgar na sessão do dia 28/9, e também resolvi com o Des Sebastião. Tive que acomodar o filho dele.
Valdoir: “Só notícias boas”.
Roberto Zampieri: “Tive que acomodar o filho dele. Entendeu essa parte?”.
Zanin destacou, na decisão, o diálogo em que Zampieri conversa com o consultor de Pupin sobre a suposta negociação e possíveis valores pela decisão favorável do desembargador Sebastião.
Veja o diálogo:
Valdoir: “Preciso acertar contigo nosso valor em aberto. Boa tarde. Peguei esses carros… veja se te interessa.”
Roberto Zampieri: “Boa tarde. Qual o valor desses carros?”.
Valdoir: “Peguei por 350”.
Roberto Zampieri: “Ok. Tá bom! O valor nosso é 600, isso? A diferença você consegue me pagar essa semana?”.
Valdoir: “600 ou 400?”.
Roberto Zampieri: “O saldo era 400, mas aí teve o filho do Velho que eu e você acertamos pagar 200 p [sic] Ele, pois ele deixou de atender o filho que estava pedindo em favor do Allan. Não sei se você recorda”.
Valdoir: “fato”.
Na decisão, Cristiano Zanin afirma, citando a conclusão da PF, que o “Allan” citado seria o advogado Alan Vagner Schimdel que, conforme o magistrado, defendia a outra parte no processo judicial.
Ainda conforme as investigações, Alan apareceu em conversa com Roberto Zampieri em 13 de setembro de 2023.
“Naquele momento, constou dos registros de conversas ter Alan sugerido a Zampieri ‘convencer o Valdoir a fazer acordo comigo naquele processo do Pupin’. Esse fato, segundo Zanin, permite a “inferência de que Alan representou a parte contrária naquele processo, assim como que um dos filhos do Desembargador estaria realmente pugnando pelo auxílio do pai na demanda judicial”.
Operação Sisamnes
A ação da Policia Federal cumpriu mandado de prisão contra o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que é apontado pela investigação como um dos principais envolvidos em um esquema de venda de sentença no Superior Tribunal de Justiça.
As casas e os gabinetes dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram vasculhados pela PF. Ambos estão afastados dos cargos desde agosto, por suspeitas no suposta esquema de venda de sentenças, e estão sendo monitorados com tornozeleira eletrônica.
Ainda foram alvos de busca e apreensão o advogado Flaviano Kleber Taques Figueiredo; o empresário Valdoir Slapak; um dos seus sócios Haroldo Augusto Filho; o filho do desembargador Sebastião, Mauro Thadeu Prado de Moraes; o ex-assessor do desembargador Sebastião, o advogado Rodrigo Vechiato da Silveira; o servidor do Tribunal de Justiça, Rafael Macedo Martins; o policial militar Victor Ramos de Castro; e o escritório do advogado Roberto Zampieri.
A PF investiga crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional.