O delegado Bruno Abreu, da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Cuiabá, responsável pela investigação sobre o assassinato do advogado Renato Nery, afirmou que a cobrança da família e amigos por respostas é legítima, mas rechaçou a afirmação de que o caso esteja estagnado.
Pessoas que estão de fora não têm ciência da dinâmica de como é feito um trabalho de investigação. Às vezes ela é demorada porque é muito complexo
Na manhã desta quinta-feira (28), a DHPP deflagrou a operação Office Crime, para cumprimento de diversos mandados de busca e apreensão, na Capital e em Primavera do Leste, contra um casal de empresários e advogados investigados.
O advogado foi morto a tiros no dia 5 de julho, em frente seu escritório na Avenida Fernando Corrêa da Costa, na Capital. No início de novembro, época em que completaram quatro meses do homicídio, diversos outdoors foram espalhados pela Grande Cuiabá, com frases citando que a “Polícia estava em silêncio”.
“Justiça por Renato Gomes Nery. Ex-presidente da OAB-MT, advogado assassinado em Cuiabá! OAB, Polícia e Ministério Público em silêncio há 4 meses. Esse crime não pode ficar impune”, constava no painel.
“Pessoas que estão de fora não têm ciência da dinâmica de como é feito um trabalho de investigação. Às vezes ela é demorada porque é muito complexo o caso e a gente depende de ordens judiciais, depende de resposta de outros órgãos para poder dar andamento”, disse o delegado ao MidiaNews.
“Tem trabalho de campo… Muitas oitivas foram realizadas para que a gente possa tomar decisões do inquérito, decisões importantes como a de hoje, realizar uma busca e apreensão no escritório de um advogado, na casa de um empresário”.
“Isso só mostra quanto trabalho está sendo feito. A Delegacia de Homicídios não tem só esse homicídio, tem diversos. A maior prova que a gente não está em silêncio é a operação de hoje. Quem tiver, um dia, acesso aos autos, vai ter uma noção do trabalho que foi feito para chegarmos até aqui”, completou.
Ao todo, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão como parte da investigação, em endereços residenciais e escritórios de advocacia dos investigados nas cidades de Cuiabá e Primavera do Leste.
Na capital, os alvos da operação foram os advogados Antônio João de Carvalho Júnior, Agnaldo Bezerra Bonfim e Gaylussac Dantas de Araújo. No interior, os alvos foram o casal de empresários César Jorge Sechi e Julinere Goulart Bentos, com quem Nery travava uma batalha judicial por imóveis avaliados em R$ 30 milhões.
Victor Ostetti/MidiaNews
A Polícia Civil durante cumprimento de mandados de busca e apreensão no escritório JB Advocacia, em Cuiabá
“O crime é muito complexo. Desde o primeiro dia a DHPP não parou nem um minuto. Nós trabalhamos de segunda a segunda no caso. Eu, principalmente, que sou o presidente do inquérito, estou 100% empenhado com a minha equipe, e o resultado de hoje é fruto de um trabalho que foi realizado com muita perseverança”, disse.
“Sobre o outdoor, eu acho que faz parte da liberdade de expressão de manifestar indignação. Para eles, quatro meses é muito tempo, só que a investigação pode demorar dois dias, uma semana, um ano, cinco anos. Existem inúmeras linhas de investigação que irão medir se o inquérito vai demorar ou não”.
O caso
Renato Nery foi surpreendido por seu assassino, que estava em uma motocicleta, assim que chegou em seu escritório. Após ser atingido por disparos de arma de fogo na cabeça, o ex-presidente da OAB-MT ainda foi socorrido e levado para o Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá, onde passou por cirurgias, mas morreu no dia seguinte.
Até o momento, a Polícia não descobriu a identidade do atirador. Uma imagem obtida pela Polícia em outubro, de câmeras de segurança na Avenida Couto Magalhães, em Várzea Grande, mostram o executor fugindo 14 minutos após o crime.
O vídeo vai ajudar a Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) a traçar o perfil do assassino, como por exemplo, a sua altura. Foi realizada uma perícia chamada Estimação de Altura por Fotogrametria e com isso os investigadores podem incluir ou descartar suspeitos.
Ainda em julho, policiais da DHPP cumpriram mandados de busca e apreensão em Guarantã do Norte, Cuiabá e Várzea Grande, com o objetivo de coletar informações que corroborassem as investigações. Um dos alvos foi o sargento aposentado da Polícia Militar, Omigha de Lima Oliveira, de 54 anos, tido como suspeito à época.
Acredita-se que o advogado Renato Nery tenha sido assassinado em função de sua atividade profissional, especialmente relacionada a questões fundiárias. Nery foi presidente da seccional mato-grossense da Ordem dos Advogados do Brasil entre 1989 e 1991.
As investigações sobre a motivação do crime e se houve um mandante ocorrem sob sigilo.