Em uma fazenda em Querência, a agrônoma Michele Guizini se divide entre plantadeiras e seu smartphone, por meio do qual compartilha sua rotina. Com mais de 1,3 milhão de seguidores no TikTok e 200 mil no Instagram, Michele se tornou uma referência quando se fala em influenciadoras do campo.
Sua história com as redes sociais começou de forma casual, ainda em 2012, quando era estudante de Agronomia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). No entanto, apesar da familiaridade com os vídeos, foi apenas durante a pandemia que os conteúdos sobre o campo viralizaram e novos seguidores começaram a brotar em seu perfil.
Para as empresas conseguirem acessar os clientes, os produtores rurais e mais pessoas, elas começaram a entrar em contato comigo
“A minha rede com o maior número de seguidores tem 1,3 milhão. E isso tudo, compartilhando a minha vida, as coisas que vivo, a lavoura, as máquinas agrícolas e meu lifestyle, digamos assim”, diz.
Atualmente, Michele, em parceria com sua sócia, administra uma propriedade agrícola na região de Querência. Com a rotina intensa de plantios de gergelim, soja e milho, a agrônoma divide os dias entre os plantios, o monitoramento das lavouras e a produção de vídeos para as redes sociais.
O conteúdo das gravações tende a variar conforme a demanda. Entre os diversos vídeos que compartilha sobre a rotina no campo, curiosidades sobre sementes, pragas e até os prós e contras de trabalhar no setor agrícola, também há publicações patrocinadas para grandes empresas do setor agrícola e de tecnologia.
“Tudo começou a ficar muito digitalizado. E, para as empresas conseguirem acessar os clientes, os produtores rurais e mais pessoas, elas começaram a entrar em contato comigo para fazer esse tipo de conexão com os produtores rurais”, afirma.
Mulheres no Agro
Além da conexão com os produtores rurais, a criadora de conteúdo estabelece também laços com mulheres e adolescentes que buscam se profissionalizar na carreira agrícola.
Acervo pessoal
Michele Guizini em atividade no campo
Com diversos vlogs do dia a dia no campo ou até conteúdos voltados para sanar curiosidades sobre plantas, doenças, fungos e ferramentas agrícolas, Michele acumula 30 milhões de curtidas e milhares de comentários no TikTok.
“Na minha página, eu converso diretamente mais com o público feminino. Atualmente, meu público feminino representa cerca de 60%, enquanto o masculino está em 40%. O perfil serve para dar visibilidade à mulher dentro do agro, já que, infelizmente, ainda somos minoria. A gente está buscando cada vez mais conquistar o nosso espaço. Mas o intuito do perfil é mostrar para toda mulher que ela consegue realizar um trabalho independente de gênero”.
Entre as mensagens deixadas nos vídeos, estão pedidos de esclarecimento sobre a faculdade de Agronomia e sobre o trabalho no campo para mulheres.
“Recebo muitas perguntas de seguidores que me acompanham, com receio de ingressar [no agro]. Mas, olha, da época em que eu trabalhava em uma multinacional, posso dizer que o preconceito ainda está dentro da cabeça da própria mulher, que fica com esse receio”, declara.
Apesar do mercado estar aberto a mulheres, comentários de ódio ainda persistem nas redes sociais.
“Os maiores ataques que eu recebo e que já recebi foram através das redes sociais e de vídeos no meu TikTok”, lamenta.
Em uma das situações mais marcantes vividas pela agrônoma, ela relata que, ao gravar um vídeo casual sobre a manutenção de um implemento agrícola quebrado, recebeu diversos comentários machistas.
“Foi um momento propício para mostrar no meu quadro no TikTok que chama Agro Perrengue. Acredito que a maior crítica que recebi foi nesse vídeo, com muitos homens dizendo que eu estava errada, sendo que eles nem entenderam o que estava acontecendo no vídeo”, relembra.
Mesmo com as situações de adversidade nas redes sociais, Michele acredita que os conteúdos são uma forma de aproximar as pessoas do mundo agrícola e desconstruir os estereótipos.
Acredito que o perfil tenha esse intuito, esse objetivo, de fomentar a presença da mulher no agronegócio
“Acredito que o perfil tenha esse intuito, esse objetivo, de fomentar a presença da mulher no agronegócio, mostrar que é possível a mulher ingressar, ter o seu espaço, ocupar o espaço que lhe cabe e também quebrar esses paradigmas, mostrar o que é feito, mostrar a realidade do agro”, explica.
A vida no campo
Com a família vindo do Sul do país e se instalando na região Norte do Estado, Michele sempre conviveu com a rotina do campo e da cidade. Mas foi o período em que passava as férias nas fazendas dos avós e dos tios que ela viu despertar a paixão pelo agro.
“Por mais que eu morasse na cidade, tentando minha vida, sempre nas férias, recesso, ou em um feriadinho, eu ia para a fazenda. Então, sempre tive esse pé no campo, sempre fui ligada, sempre gostei muito. Isso, com certeza, teve um peso muito grande para me tornar quem eu sou hoje em dia”.
Além de conteúdos voltados para produtores e produtoras rurais, a agrônoma busca atingir o público jovem, mostrando um pouco da vida no campo.
“Quem vive o agro já sabe daquilo ali. Então, é para quem não tem nada a ver com o agro. O agro precisa de cada vez mais jovens que se interessem por ele”, finaliza.