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Nutricionista: “90% não funcionam, não entregam o prometido”

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Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso e com especialização em Nutrição Funcional e Esportiva pelo Instituto de Pesquisas, Pós-Graduação e Ensino (IPGS), a nutricionista Ana Carolina Gatto acompanha de perto as mudanças e avanços na sua área.

 

Em entrevista ao MidiaNews, a profissional falou do papel dos suplementos na rotina alimentar, maiores erros que cometemos ao tentar fazer escolhas inteligentes e principais desafios e tendências da área, além da importância de uma nutrição adaptada às necessidades de cada pessoa. 

 

Em relação aos suplementos, Ana Carolina é entusiasta, mas defende o consumo consciente e critica a indústria do setor. “Sendo bem sincera: eu acho que de todos os suplementos do mercado, 90% não funcionam. Não entregam aquilo que prometem, porque o nosso corpo não precisa daquelas quantidades, o nosso corpo não vai usar aquilo ali para realmente o que ele está prometendo”, diz.

 

Leia os principais trechos da entrevista.

 

Midia News – Quais são as principais armadilhas que as pessoas cometem na alimentação do dia a dia e como evitá-las?

 

Ana Carolina Gatto – Eu acho que depende muito do público. Pra cada tipo de público tem um erro em comum mais frequente. Mas eu acho que é uma coisa muito básica que eu sempre falo para os pacientes – que acho que a parte mais fácil de manter – é beber água. As pessoas não bebem água. Isso é um absurdo. E é uma coisa tão simples: só você criar o hábito de levar um copo com água na sua boca. Mas em relação à alimentação mesmo, eu acho que é negligenciar um pouco essa questão da alimentação e deixar para pensar no que vai comer só na hora que der fome. Porque daí o que sobra? Opções rápidas, opções práticas que nem sempre são as mais adequadas. Sabemos que emergências acontecem e está tudo bem, mas tem muita gente que vive nessa rotina: “Eu vou comer o que tem na hora, na hora que der fome”. E aí, normalmente, não vão ter as melhores opções, né, nesses casos. Acaba recorrendo a um salgadinho, um salgado, passa em algum lugar, algum drive-thru e aí pega e tchau. Então, acho que a falta de planejamento em relação à alimentação pode atrapalhar um pouco. Às vezes até a compra do mercado. Deixa para comprar e ir no mercado quando já acabou tudo. A falta de organização talvez seja um problema na maioria das pessoas.

 

 

Midia News – Como as tendências de dietas populares nas redes sociais influenciam a nutrição? O que devemos considerar antes de seguir essas modas?

 

Ana Carolina Gatto – Influencia tudo. Tem pessoas que chegam no consultório achando que sabem mais que a gente. Porque é formada em Tik Tok, porque vê a blogueira X fazendo um protocolo Y e acha que vai dar certo pra todo mundo. Ao mesmo tempo que hoje em dia a gente tem essa facilidade de acessar informação, isso acaba atrapalhando um pouco, sabe? Porque é uma linha muito tênue entre a gente consumir coisas positivas e coisas negativas. A coisa mais importante é você considerar consultar um profissional que está apto para te ajudar de uma maneira individualizada. E não achar que uma dieta serve pra todo mundo, que hoje existem tantas possibilidades também em relação à alimentação, tantas vertentes da nutrição. Então pra cada caso você aplica uma coisa muito específica.

 

Midia News – Quais são os mitos sobre a nutrição que ainda confundem as pessoas. A senhora pode esclarecer algum dos mais populares?

 

Ana Carolina Gatto – Que sinônimo de emagrecer é comer menos, dieta é passar fome, dieta é cortar carboidrato, é não comer à noite. Apesar de estar mudando um pouco a concepção das pessoas em relação a essa restrição tão absurda que antigamente era vendida, ainda tem muita gente que acredita nisso. Tem muito paciente que às vezes sai do consultório e fala: “Meu Deus, mas eu vou comer mais do que eu comia antes? Você tem certeza que eu não vou engordar?” E sim, porque não são sinônimos. Então fazer dieta não significa passar uma tortura de fome, de penitência. Essa questão do carboidrato à noite também, de comer à noite. “Tem que jantar antes das 18h, porque depois você vai acumular mais gordura”. Não tem nada disso. Acho que essas são as mais comuns. E que creatina dá pedra no rim, da insuficiência renal. Acho que também é uma outra que a galera ainda acredita muito, que incha e que dá insuficiência renal.

 

Midia News – O horário das refeições afeta a digestão, o metabolismo? Existem certos horários melhores para consumir certos tipos de alimentos?

 

Ana Carolina Gatto – Não podemos anular o fato de que o ser humano tem um ciclo cicardiano. Gastamos mais energia durante o dia, onde a gente desempenha as nossas atividades, e durante a noite a gente repousa. Então, teoricamente, não precisamos ingerir tanta energia no período noturno quanto no período diurno. Não existe hora certa para comer, não temos um reloginho que a cada três horas a gente precisa fazer uma refeição.

 

Acho que vale muito mais o paciente entender os sinais de fome e saciedade, entender a rotina dele e ver como fica viável do que seguir horários específicos e colocar alarme para despertar para lembrar de comer. Mas, lógico existe também estratégias nutricionais dependendo do caso do paciente.

 

Agumas condições, como por exemplo, pacientes que têm doenças inflamatórias, condições inflamatórias ou diabetes, que vão passar por um tratamento mais incisivo em relação à dieta, uma das estratégias que a gente pode adotar é essa crononutrição que a gente chama, de determinar ali uma quantidade maior de caloria para o paciente ingerir ao longo do dia e um pouco menos no período noturno. Com mulheres com condições como a síndrome dos ovários policísticos também trabalhamos um pouco dessas estratégias, mas o que as pessoas não podem acreditar é que isso vai mudar tudo. Não muda tudo, entendeu? Pode ser benéfico, é benéfico em alguns casos, mas pensando em uma pessoa que às vezes trabalha até 20h, ela tem uma rotina diferente da nossa, da maioria das pessoas, e aí às vezes ela treina 21h. Não tem como achar que para esse indivíduo ele vai ficar sem comer depois de treinar. É uma coisa muito individualizada, tem que respeitar cada rotina, cada pessoa.

 

Midia News – O jejum intermitente realmente traz benefícios para todos?

 

Ana Carolina Gatto – Fazer jejum tem alguns benefícios, mas em relação ao emagrecimento que as pessoas normalmente acreditam que ele vai desempenhar um papel muito importante, uma influência muito grande, já não é essencial. É igual eu falei em relação à crononutrição: o jejum intermitente é uma das infinitas estratégias que a gente tem para o processo de emagrecimento. E para quem que ele é indicado? Para quem consegue fazer. Então, por exemplo, a minha mãe. A minha mãe é uma pessoa que se dá muito bem com o jejum. Ela não faz questão de tomar café da manhã. Ela não é o tipo de perfil que restringe aquele café da manhã e depois desconta ao longo do dia. Que é o que acontece com muitas pessoas que tentam fazer o jejum. Uma coisa que as pessoas confundem muito também, que pra ele ser um jejum de fato, tem que ser um jejum de pelo menos14, 16 horas. Que às vezes as pessoas não conseguem respeitar esse tempo. Mas voltando, às vezes as pessoas restringem o café da manhã, vão almoçar às 13h, e depois que fazem a primeira refeição, aí vem destruindo tudo, comendo rodapé da mesa, canto da parede. Depende muito da pessoa.

 

Midia News – Os suplementos alimentares têm ganhado espaço no mercado há algumas décadas. Em que período a senhora percebeu que eles começaram a ser popularizados e por que motivo?

 

Ana Carolina Gatto – Primeiro eu vou só dividir aqui, porque quando falamos em suplemento hoje já vem logo aquela indústria wellness. De suplemento para performance, para composição corporal. Só que suplemento é qualquer substância, qualquer produto que vá complementar a dieta. Então, por exemplo, uma vitamina D é um suplemento. As vitaminas, os minerais, já começaram muito antes com o avanço da medicina, da nutrição, pra complementar a deficiência nutricional, carências que as pessoas constatavam nos exames ou através de sintomas.

 

Nos anos 90 começaram um pouco as pesquisas sobre a influência desses suplementos na performance dos atletas. Então nas Olimpíadas eles já perceberam, por exemplo, que a creatina melhorava um pouco e ela não caía no doping, o whey protein melhorava a recuperação muscular, aumento de massa muscular também. Na época, o público de atleta começou a consumir um pouco mais e depois foi difundido para o mercado geral, para a população. Nesse primeiro momento foi um “boomzinho”, um “miniboom” dos suplementos. E aí começaram a evoluir, a desenvolver novos produtos.

 

Só que eu sinto que o verdadeiro “boom” foi depois do Instagram, que começaram a difundir ainda mais esse estilo de vida saudável, as blogueiras a fazer o consumo, a indicar o consumo. Teve esse crescimento muito mais significativo nessa época do que naquela anterior, quando começaram os estudos sobre a performance e o rendimento esportivo, porque ficou mais popular. Antes era uma coisa muito das pessoas que praticam exercício físico regularmente e que vivem isso. Hoje em dia, todo mundo sabe que a creatina é um suplemento, o whey também. Então já são coisas muito mais populares. As pessoas têm conhecimento muito maior. Tem gente que faz uso de tudo que você oferecer. Então tem esses dois fatores.

 

 

Midia News – Os primeiros tipos de suplementos a serem comercializados ainda são populares ou já foram substituídos por novas fórmulas?

 

Ana Carolina Gatto – Falando desses suplementos mais wellness, eles ainda são utilizados. Mas o que acontece? Já vou abrir uma brecha aqui: a indústria de suplementos é sacana. Então, por exemplo, tem muitos suplementos que não possuem evidência comprovada cientificamente. Existem algumas regulamentações que permitem que o produto não seja comprovado cientificamente para ser comercializado. Apenas o fato dele não causar mal já é suficiente para ser comercializado. Então tem muito suplemento que, antigamente, era mais consumido e hoje já não é tanto porque começaram a sair estudos sobre a comprovação da eficácia dele e já caiu por ladeira abaixo. Mas a maioria, sim, ainda é consumida. E aí sai muito produto novo, mas esses básicos continuam sendo consumidos. O que que muda? O whey evoluiu muito. Se você pegar o whey protein que era comercializado em 1990, que ninguém conseguia tomar, que era tenebroso, horrível, zero palatável, hoje em dia a gente toma um whey que parece um leite com Nescau, com achocolatado. Isso dá várias possibilidades, versatilidade de consumo. Ele foi evoluindo nesse aspecto. Acho que é sensorial. E lógico, desenvolvendo novos produtos. Mas aqueles produtos antigos continuam sendo comercializados.

 

Midia News – Muitos suplementos prometem uma super-performance ou resultados milagrosos. Como é o caso, por exemplo, dos termogênicos, que são conhecidos por queimar gordura, acelerar o metabolismo. O que é importante saber sobre esses produtos?

 

Ana Carolina Gatto – Foi o que eu falei: a indústria de suplemento é sacana. Eles se aproveitam muito dessa busca atual por manter bons hábitos, por um estilo de vida saudável, para tirar dinheiro da população. Isso é fato. Se entrarmos numa loja de suplemento, você vai ter uma variedade infinita de opções para qualquer objetivo que você tenha. E é muito atrativo, né? A gente quer tomar uma cápsula e realmente sentir que está queimando gordura um pouco mais fácil. A gente quer tomar um suplemento e sentir que está hipertrofiando mais fácil. Mas sendo bem sincera: eu acho que de todos os suplementos do mercado, 90% não funcionam. Não entregam aquilo que prometem, porque o nosso corpo não precisa daquelas quantidades, o nosso corpo não vai usar aquilo ali para realmente o que ele está prometendo e vai direcionar para outra função que não é a intenção.

 

Os termogênicos, vou dar o exemplo deles, mas a gente pode aplicar com vários ou vários outros exemplos. O caso deles é o seguinte: eles vendem como se fosse um suplemento que vai fazer você queimar mais caloria sem fazer atividade física. Por quê? Se a gente pega, por exemplo, o café, quando a gente toma café, realmente a gente tem um aumento da frequência cardíaca, alguns efeitos ali que, de fato, eles vão impactar um pouquinho no calórico, mas a contribuição disso é tão insignificante, tão insignificante mesmo, que não faz sentido. Como fazer para aumentar o gasto calórico? Para aumentar o metabolismo, para acelerar, é gastando caloria de maneira física, fazendo esforço físico, fazendo atividade física, se movimentando, andando um pouco mais, subindo escada ao invés de pegar elevador… Essas coisas básicas realmente vão impactar e vão gerar uma diferença significativa a curto, médio, longo prazo, e não tomar termogênico. Isso realmente não vai ajudar muito. Lógico, impacta, mas tão pouco que não vale a pena. E nem o gasto financeiro. Você está pagando por uma coisa que não vai te dar um retorno tão eficiente quanto fazer uma coisa de graça às vezes.

 

Midia News – Há uma preocupação crescente com a qualidade e pureza dos suplementos. Como os consumidores podem saber se estão realmente recebendo os ingredientes prometidos nos rótulos?

 

Ana Carolina Gatto – Realmente, isso é um problema. Porque os órgãos que fiscalizam, regulam isso, nem sempre fazem com frequência, nem sempre cumprem esse papel. O que eu sempre falo para os meus pacientes: comprem os produtos de marcas renomadas, que já estão consolidadas no mercado, e de lugares confiáveis. Ou então do site da própria marca, porque rola muita adulteração e falsificação de suplemento, muita mesmo. Se você compra por sites como o Amazon, Mercado Livre, tem que tomar muito cuidado. Já tem vários pacientes, inclusive eu já caí nessa de comprar creatina e vir amido de milho. Eu sei que não é creatina, mas as pessoas às vezes não sabem. Então, evitar comprar dessas marcas ou dessas lojas de procedência duvidosa. Às vezes vale a pena você realmente pagar um pouquinho a mais no certificado que aquele suplemento é original do que tentar pagar metade do preço e vir um produto falsificado.

 

MidiaNews – E pra quem é realmente indicado o uso dos suplementos? Existem grupos que mais se beneficiam com esse recurso ou pessoas que são contraindicadas?

 

Ana Carolina Gatto – Depende muito do suplemento e depende muito para o que ele vai ser indicado. Se pegarmos, por exemplo, a creatina. Antigamente, a creatina era usada mais pelo público fitness, que praticava musculação, exercício, que queria uma melhora na performance e na composição corporal. E hoje em dia a gente já sabe que a creatina tem várias outras aplicabilidades além da performance e composição corporal. É muito indicada para idosos, para prevenir circopenia, que é a deficiência de massa muscular, fraqueza muscular. É indicada também para diabéticos, porque tem uma melhora da resposta glicêmica. É indicada pra pacientes com alguns transtornos psiquiátricos, que acabam tendo uma deficiência de creatina cerebral. Pra mulheres, gestantes, pra vários públicos. Já não é só mais o público do esporte que se beneficia.

 

E o whey é a mesma coisa. Inclusive, vou aproveitar para já explicar aqui sobre o whey, que é uma coisa também que as pessoas acabam confundindo muito. O whey é vendido como suplemento, mas hoje em dia a gente já usa muito ele como um produto alimentício. Deixou de ser classificado da mesma forma que, por exemplo, uma glutamina, que um termogênico, que um pré-treino. E hoje ele passa a ser prescrito nas dietas como um alimento. Ele é uma fonte de proteína, que é um nutriente que a gente tem. E aí, da mesma forma que você consegue obter proteína na sua alimentação através de alimentos como carne, produtos lácteos, leguminosas, feijão e grão de bico, você também consegue obter proteína através do whey. E por isso que ele pode ser consumido pela grande maioria da população, sem muitas contraindicações. É lógico que existem opções melhores, né, opções nem tão boas, mas ele é um suplemento que pode ser usado por qualquer pessoa, não só com o objetivo de melhora de composição corporal. É um objetivo de conseguir ingerir uma quantidade boa de proteína diária, que tem recomendações necessárias, através de um outro alimento que não seja de alguns grupos que eu falei anteriormente. Tem muita gente que tem dificuldade de comer carne, pessoas que são vegetarianas ou até mesmo os veganos. E a gente já tem outros tipos de suplementos veganos, que não seja whey. Tem público intolerante ou alérgico ao leite. Então a gente tem mais uma forma de consumir proteína sem ser através dos alimentos.

 

 

  

Midia News – Entre os suplementos mais populares como whey, creatina, BCAA, quais na sua opinião são os mais efetivos e com benefícios comprovados? Cite alguns dos seus preferidos.

 

Ana Carolina Gatto – Eu amo creatina e whey, eu gosto muito mesmo. Mas vejo muita gente falando da creatina; é um suplemento que todo mundo deveria ingerir. Acho que o ômega 3 é perfeito. Nossa alimentação ocidental é muito fraca, muito deficiente e [o ômega 3] desempenha inúmeros benefícios para a nossa saúde como um todo. Desde função cerebral até proteção hepática, controle de colesterol. Eu gosto muito de prescrever ômega 3. Suplementos com eficácia comprovada também. A gente tem a cafeína. Hoje em dia as pessoas querem muito pré-treino, para dar um up ali no treino, pra conseguir um gás. Em uma lista de 30 ingredientes daquele pré-treino, o que que vai realmente desempenhar o benefício para te estimular a ter um rendimento melhor no treino? É a cafeína. O resto? Não vai. A cafeína também tem essa eficácia comprovada.

 

Midia News – Suplementos para emagrecimento são amplamente consumidos. Quais os riscos que eles podem trazer saúde? Existe algum risco em consumir essas cápsulas, esses remédios em geral?

 

Ana Carolina Gatto – Com certeza. Por exemplo, na época da pandemia, falando um pouco sobre essa questão das vitaminas, que eu acho que é importante as pessoas começaram a se autossuplementar com multivitamínico, vitamina D, e existem algumas vitaminas que são lipossolúveis. Então a gente não consegue excretar o excesso no xixi, igual por exemplo a vitamina C, que as pessoas às vezes compram aqueles efervescentes na farmácia e ficam tomando para imunidade. Não adianta nada também. Mas existem algumas vitaminas que em excesso a gente não consegue eliminar. Elas ficam acumuladas no nosso corpo e podem gerar uma intoxicação e efeitos colaterais por conta do excesso. Em relação a esses produtos mais fitness, termogênicos são contraindicados para algumas pessoas que às vezes possuem ansiedade, gastrite… Porque pode agredir a sua mucosa gástrica, porque pode te gerar sintomas de ansiedade, taquicardia, inquietação… Alguns pacientes com insuficiência renal, com alguns problemas renais também precisam se privar de alguns outros suplementos. Mas é muito de casos específicos. Lógico que existem contraindicações. Nada em excesso ou em uso indevido vai te oferecer um benefício. Pode não te fazer mal? Pode, às vezes você está gastando dinheiro e está correndo risco também.

 

Midia News – Muitos buscam suplementos para compensar hábitos alimentares ruins. Isso é realmente eficaz ou pode criar uma falsa sensação de segurança nutricional? A suplementação pode substituir uma alimentação equilibrada?

 

Ana Carolina Gatto – Nunca. Então é essa falsa sensação aí mesmo que você falou. Primeiro que suplemento é um complemento da dieta. Nada substitui uma alimentação balanceada. Se a gente for parar para analisar, por exemplo, os multivitamínicos que a galera toma: “Eu vou tomar um multivitamínico para conseguir ingerir uma quantidade boa de vitamina mineral”. É a mesma história da biodisponibilidade. É muito pequena. Então tem esse fator que você não consegue absorver tão bem os nutrientes que estão ali. Segundo, as subdosagens, às vezes, se você for parar para pensar, isolar uma vitamina D acaba sendo, às vezes, um pouco mais caro do que isolar uma vitamina C, e aquele complexo vitamínico tem muito de uma coisa que você não precisa e tem pouquíssimo de uma coisa que você está precisando.

 

O melhor jeito de você suplementar é fazendo exames, vendo o que o seu corpo precisa para a partir disso determinar um protocolo suplementar individualizado. Se formos analisar, os suplementos multivitamínicos não substituem frutas e verduras, porque vai ter uma variedade ali. Fruta e verdura não oferecem só vitamina e mineral. É lógico, o motivo pelo qual a gente indica as pessoas consumirem com uma frequência considerável é que vão oferecer fibras, para melhorar a condição intestinal, para melhorar a microbiota, para regular o intestino. Eles vão oferecer água também para melhorar a hidratação, porque não, né, as pessoas que eu falei não bebem água, então as frutas também ajudam em compostos bioativos. Compostos bioativos são fatores que não são considerados nutrientes, mas são substâncias que desempenham benefícios na nossa saúde, benefícios antioxidantes, antiinflamatórios, protetores, que precisamos ingerir. Eles vão oferecer tudo isso além das vitaminas e minerais, que nesse caso são muito mais absorvidas do que num comprimido multivitamínico, por exemplo.

 

 

 

Midia News – Para quem busca iniciar a suplementação, qual é a melhor maneira de começar, o que levar em conta?

 

Ana Carolina Gatto –  Eu acho que o primeiro passo é consultar com um nutricionista, ou algum outro profissional dessa área. A suplementação pode ser feita por médicos, mas em relação a alguns suplementos deve ser feita com um nutricionista, sim. Em relação a whey, por exemplo, que vai ser prescrito na dieta, e não como uma coisa fixa. “Olha, todo dia você vai tomar 30 gramas de whey, toma 2 de whey”. Não é assim que funciona. A gente prescreve como se fosse um alimento. Então, nesse caso, o ideal é você passar por uma consulta nutricional pra poder encaixar aquilo ali da sua rotina de uma maneira eficiente e que faça sentido. Para evitar que você gaste dinheiro à toa, o ideal é que você primeiro passe por uma consulta para depois saber o suplemento eficaz pra você. Não acho que seja interessante ir na loja comprar um suplemento só porque está todo mundo tomando ou porque o personal da academia falou que eu preciso tomar.

 

Midia News –  Agora falando um pouquinho de intestino, probióticos funcionam? Ajudam no intestino?

 

Ana Carolina Gatto – O probiótico é um suplemento muito delicado. Então ele é supereficiente e realmente desempenha um papel muito importante em muitos casos de pessoas que têm esse desequilíbrio da microbiota, que têm aquela prevalência de bactérias patogênicas e que precisam proliferar bactérias benéficas naquele ambiente para ter um intestino mais saudável. Só que o problema é que o uso indiscriminado de probiótico pode gerar efeitos colaterais que vão piorar a condição intestinal. Existem algumas condições inflamatórias intestinais que muitas vezes os médicos ou nutricionistas acabam prescrevendo o probiótico como se fosse a salvação daquele caso. E em curto prazo pode até funcionar, mas a longo não funciona. E probiótico não é um tratamento assim que você vai. “Ah, eu vou tomar uma caixa aqui e vou parar”. Ou então: “Ah, meu intestino estava bom quando eu estava tomando, aí eu parei e perdi, ou vou lá comprar outra caixa pra tomar”. É uma coisa mais crônica e que exige um acompanhamento pra gente ir avaliando os sinais e sintomas do paciente no decorrer do tratamento para entender se vai continuar, se vai parar.

 

Midia News – Muitas vezes a suplementação exagerada é prejudicial. Como reconhecer sinais de excesso?

 

Ana Carolina Gatto – Às vezes você não vai conseguir reconhecer que você está suplementando em excesso. Eu já vi muitas pessoas que são… como que seria um termo de hipocondríaco para suplemento? Eu queria muito, a gente vai ter que desenvolver esse termo. Porque existem pessoas que tudo que você fala, viu na televisão, a pessoa já começa a comprar, comprar. Aí todo dia toma 30 cápsulas de óleos diferentes e extrato, e não que necessariamente aquilo vá causar um mal, só que não vai te causar um benefício também. E às vezes é tanta coisa… Você não sabe nem o que que está te ajudando, o que que não está te ajudando, o que que está atrapalhando. Às vezes a pessoa não vai conseguir notar esse excesso, esse pecado de ela estar consumindo uma coisa que ela não precisa ou que pode prejudicá-la a longo prazo. É mais difícil, diferente, por exemplo, uma vitamina que às vezes você vai ver no seu exame. Lógico, exames às vezes detectam, você pode identificar alguns marcadores ali que ficam alterados. E aí se o paciente está abusando de suplementos já pedimos para suspender, mas às vezes a pessoa não vai fazer exame. E com sinais e sintomas clínicos talvez ele não perceba mesmo. Tem que ir com muita cautela e passar por uma consulta, por uma avaliação, para realmente fazer uma coisa certa e não de qualquer jeito.

 

 

 

Midia News – Com o aumento da popularidade das dietas plant-based, a senhora acredita que o mercado de suplementos também passará a focar mais em ingredientes vegetais?

 

JAna Carolina Gatto – Já está. A população que consome carne, derivados, não consome tanto e acaba não conhecendo tanto. Mas hoje em dia a indústria de suplementos veganos está crescendo muito, todas as marcas já se preocupam em fazer uma linha com produtos que não têm origem animal. Estão evoluindo nessa questão sensorial, que antes era muito complicado para beber proteínas veganas por conta da textura, o sabor nem sempre era muito agradável. Então hoje já existem várias extrações diferentes de produtos diferentes para elaborar essa proteína vegana, com propriedades sensoriais diferentes. Está evoluindo muito já nesse aspecto, ainda bem. E está chegando no Brasil cada vez mais. Lá no exterior já é muito difundida essa cultura, então já é muito mais acessível. Aqui está chegando também, já está conquistando um espaço no mercado. Até pessoas que não são vegetarianas, veganas, às vezes, consomem esses produtos.

 

Midia News – Na sua opinião, o que o futuro reserva para o mercado da suplementação e quais mudanças prevê em termos de produtos e perfis de consumo?

 

Ana Carolina Gatto – Realmente nunca parei para pensar nisso. Mas eu acho que em relação à criação de novos produtos, a tendência é que cada vez mais as pessoas desenvolvam, lógico que existe muito charlatanismo na nutrição, mas eu acho que hoje em dia as pessoas estão tomando a consciência de que precisa ter uma eficácia, precisa ter uma justificativa pra você consumir aquilo.

 

Eu espero que a indústria se volte muito para isso, de fazer suplementos que realmente vão desempenhar um benefício para um tipo de população, não necessariamente para todos, mas que realmente vão funcionar. Que não vai ser você jogar dinheiro fora com alguma coisa que não faz sentido, que não passou por um estudo, por uma comprovação. E acho que não só da indústria, mas das pessoas terem essa consciência de que suplemento não deve ser banalizado, que não é uma coisa pra você sair comprando, consumindo como se fosse uma água, uma salada, e que as pessoas também tomem a consciência de que suplemento nenhum substitui uma alimentação balanceada e um estilo de vida saudável. Não dá pra gente substituir isso por cápsulas. Mas a tecnologia avança tanto que é tão difícil saber o que esperar. Sendo bem sincera, é muito difícil mesmo. E acho que até assustador, às vezes porque nós profissionais estamos sempre se atualizando, congresso, artigos científicos, estudos, mas é tudo muito rápido, acontece tudo muito rápido… É uma avalanche de informação, de possibilidade. Então, não sabemos, aguardamos cenas dos próximos capítulos.

 

Serviço: 

 

Ana Carolina atende na clínica Gastro MT, localizada na Rua das Begônias 615 no bairro Jardim Cuiabá

 

Telefone para contato:  (65) 99999-9732  

 

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Veja a entrevista completa:

 





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