Passagem curta, partida precoce e um legado de compaixão e fé que perdura há duas décadas. Familiares e amigos da jovem Patrícia Souza da Luz, que faleceu aos 15 anos, organizam anualmente um evento beneficente para doar brinquedos e cestas básicas a famílias carentes de Cuiabá.
Era uma menina muito alegre e lutou muito pela vida, tinha muitos sonhos e um deles era o de ajudar as famílias carentes
Para honrar a memória da jovem, que morreu há exatos 20 anos, e realizar o sonho que ela não pôde concretizar em vida, os pais dela lideram o evento, que já está em sua 20ª edição: a “Festa Ação Solidária Amigos da Patrícia”.
O evento deste ano ocorreu no último dia 9, na Paróquia Santuário Divino Espírito Santo, no Bairro CPA I, e contou com o apoio de dezenas de voluntários. A noite incluiu jantar por apenas R$ 15, bazar solidário e brinquedos, além de atrações musicais.
Toda a renda do evento será revertida em doações de cestas básicas, panetones e brinquedos para aproximadamente 200 famílias cadastradas na paróquia, de oito diferentes comunidades da cidade.
“Essa é uma festa de comunhão, de amor, são muitas pessoas envolvidas e que se dedicam em prol do outro”, afirma a dona de casa Zuleide de Souza Filho, de 60 anos, mãe de Patrícia.
O que hoje se tornou uma grande festa começou como uma ação de arrecadação de alimentos e brinquedos para realizar o sonho da jovem.
Católica devota
Patrícia nasceu com ventrículo único, uma doença rara no coração. Nesse tipo de cardiopatia congênita, o coração não consegue bombear o sangue de maneira eficiente para todo o corpo.
Arquivo pessoal
Patrícia durante sua 1ª Eucaristia
Ao longo dos anos, a jovem passou por nove cirurgias e faleceu em 23 de novembro de 2004, um dia após realizar mais um procedimento, na Beneficência Portuguesa de São Paulo, uma das maiores e mais antigas instituições de saúde do Brasil.
À época, segundo Zuleide, Cuiabá não oferecia o tipo de tratamento de que a filha precisava.
Filha única, Patrícia foi descrita como uma menina madura, dedicada aos estudos e uma católica fervorosa. “Era uma menina muito alegre e lutou muito pela vida, tinha muitos sonhos e um deles era o de ajudar as famílias carentes”, diz Zuleide.
A jovem sempre pedia aos pais para comprarem brinquedos e alimentos para doar às famílias carentes no Natal. Diante da situação financeira precária, a família adiou o sonho. A última vez que Patrícia fez o pedido, já estava internada para a última cirurgia.
“Ela era muito católica, foi batizada, fez a primeira eucaristia, gostava de se confessar, comungar e era participativa nas missas, fazia parte do grupo de jovens, já foi até festeira do Divino Espírito Santo. Tinha muita fé de que iria ficar boa”, conta.
Zuleide recorda que a filha era muito alegre e seu pensamento positivo contagiava a todos à sua volta.
Patrícia cursava a 8ª série e, mesmo tendo que se ausentar das aulas com frequência por causa do tratamento, mantinha boas notas.
“Ela sempre falava pra mim que seria médica. Não sei se por passar muito tempo no hospital, ela dizia: ‘Mamãe, eu vou estudar, vou ser médica e vou cuidar das crianças’. Ela sempre me falava isso”, recorda.
“Ela foi uma bênção muito grande para mim e para o meu esposo. Aprendemos muito com ela, aprendemos a confiar mais em Deus. Ela tinha uma alegria, não reclamava de nada, apesar do sofrimento”, completa.
Liz Brunetto/MidiaNews
Evento Ação Solidária Amigos da Patrícia
Última conversa
Na última conversa com a família, a jovem tentou tranquilizar os pais e disse não ter medo de morrer.
“Quem morre não sofre mais. Quem morre vai pro céu e no céu não tem sofrimento. As pessoas que ficam não deveriam chorar”, disse a jovem aos pais.
“Foram as últimas palavras dela para nós. Ela estava tranquila, muito serena”, relata Zuleide.
A dona de casa conta que a ação cresceu muito nos últimos anos e hoje, para a entrega das cestas, é organizado um evento com café da manhã, brincadeiras para as crianças, palestras e um almoço para as famílias.
“Deus colocou muitos anjos em nossa vida. A ação solidária só cresceu, e a gente tem conseguido atender mais famílias. É muito bom saber que há pessoas de coração bom, generosas”.
O evento entrou para o calendário da paróquia e é feito todos os anos em novembro, mês em que a jovem morreu e próximo ao natal.